Liderança e gerenciamento são a mesma coisa?

No passado, liderança era chamada de gerenciamento ou management e oferecia direcionamento e alta capacidade técnica. Esse estilo de liderança funcionou muito bem e levou organizações a realizarem coisas grandiosas. Mas atingiu seu limite.

Hoje, existe uma clara distinção entre liderança e gerenciamento pois espera-se do líder não apenas o olhar para processos, capacidade técnica e prazos, mas o olhar para e o entendimento das pessoas envolvidas e seus interesses.

Como disse Javier Pladevall, um executivo automotivo, “a liderança hoje é desaprender a administrar e reaprender a ser humano”.

Citado no artigo de Rasmus Hougaard que é o fundador e CEO da Potential Project e autor do livro inovador da Harvard Business Review –The Real Crisis In Leadership para Forbes

 

Liderança é algo que se faz, não algo que se é. Competência de liderança se aprende, se desenvolve, se pratica na rotina diária.

Diversas pesquisas (citadas nos artigos ao longo do texto) apontam que entre 77% e 86% das empresas estão enfrentando lacunas na liderança. A entrada das novas gerações estão deixando o ambiente organizacional ainda mais desafiador pelas características mais imediatistas e com baixa habilidade de escuta e inteligência relacional que apresentam.

Um conceito de liderança (na teoria): Liderança é um conjunto de comportamentos usados para ajudar as pessoas a alinhar sua direção coletiva, executar planos estratégicos e renovar continuamente uma organização. Assim está descrito em um artigo da Mckinsey & Company sobre liderança.

Na prática a história é outra.

Eu estava fazendo uma pesquisa na internet em diversas plataformas sobre citações, expressões, significados e conceitos relacionados ao termo liderança para elaborar um material interativo para um grupo de jovens líderes e fiquei um pouco assustada ao me deparar com o que vou registrar abaixo:

• comandar o barco
• ter as rédeas
• comandar
• ter o comando da situação
• tomar a frente, assumir comando, ultrapassar adversário em uma disputa
• dominância
• lavagem cerebral – convencer alguém, por meio de força física ou psicológica a concordar com ideias e atitudes com as quais não concordaria por vontade própria.

Isso está de muitas maneiras introjetado na grande maioria das pessoas que assumem posições formais de liderança. Esse tipo de mentalidade, posicionamento e crença é o que tem contribuído para gerar os dados obtidos na pesquisa mundial da Gallup sobre o ambiente de trabalho.

Na pesquisa da Gallup de 2023 os números sobre o ambiente de trabalho, que representam a voz coletiva do funcionário global, são alarmantes e a conclusão é emergencial: é preciso mudar o jeito de liderar.

“O que os líderes podem fazer hoje para potencialmente salvar o mundo? A Gallup encontrou uma resposta clara: Mude a maneira como seu pessoal é gerenciado .”

JOHN CLIFTON | CEO, GALLUP

Alguns números:

Apenas 23% dos funcionários está engajado no trabalho.

44% estão com níveis de stress extremamente altos

51% dos funcionários estão em busca ativa por uma nova posição de trabalho

Quando perguntados sobre o que precisaria mudar no trabalho:

41% declaram mudança no engajamento e na cultura

• Para que todos sejam reconhecidos por suas contribuições
• Gostaria que os gestores fossem mais acessíveis e pudéssemos conversar abertamente
• Eles devem conceder mais autonomia no trabalho para estimular a criatividade de todos
• Gostaria de aprender mais coisas, mas o trabalho que faço é bastante repetitivo
• Eu só queria que eles me respeitassem mais
• Dando a todos uma chance justa de serem promovidos
• Objetivos mais claros e orientação mais forte

Remuneração e Benefícios 28%

• Aumentar meu salário porque eu trabalho duro, mas o salário não é suficiente
• Eu pagaria os funcionários em dia
• Os salários devem ser proporcionais às qualificações e ao mérito
• Gostaria de um vale combustível mensal para os custos de transporte
• Uma cafeteria / cantina muito boa disponível para todos
• Creche totalmente subsidiada
• Eles devem recompensar os funcionários pelos excelentes resultados alcançados pela empresa

Bem-estar 16%

• Comunicar os turnos com bastante antecedência me permitiria organizar melhor meu tempo livre
• Menos horas extras
• Gostaria de trabalhar mais em casa
• Gostaria de ter pausas mais longas para poder comer sem pressa
• Configurar uma clínica de saúde
• Quero ter uma pausa no trabalho, é difícil sem descanso
• Levar a sério a saúde e a vida dos trabalhadores
• Não temos um lugar para relaxar ou para nos reunir com colegas para um coffee break

Todos os três tópicos anteriores estão diretamente relacionados à cultura de liderança e gerenciamento.

O que está associado à liderança em termos de pensamento e mentalidade que se reflete na prática diária?

Cultura de ambição, perfeccionismo e competitividade.

Estas três práticas incentivadas e premiadas, corrompem as chances de uma pessoa se tornar um bom líder para sua equipe e consequentemente para a organização.

Algumas escolas de liderança apresentam comportamentos e práticas bem definidas como perfis específicos. Mas a questão é bem mais complexa e profunda.

O posicionamento, assim como a pessoa que lidera, deve ser definido pelo contexto que se apresenta e essa leitura de contexto precisa de conhecimento, treinamento, reflexão e intenção firmes e constantes.

Segue uma lista de referência de 8 estilos comuns de liderança, seus prós e contras.

Líder Transacional

Como o próprio nome indica, a liderança transacional envolve recompensas e punições em troca da conclusão (ou não) de uma tarefa. Uma posição de vendas – com uma estrutura de comissão em camadas – pode vir à mente quando se pensa em um ambiente de liderança transacional. Um sistema baseado em recompensas pode ser motivador e muitos trabalhadores podem prosperar em um ambiente com expectativas claras e uma estrutura definida. No entanto, esse estilo rígido não é adequado para todos, especialmente para os trabalhadores que gostariam de contribuir com ideias para sua empresa.

Líder Transformador

Os líderes transformadores são conhecidos por inspirar inovação em suas equipes e, em geral, por capacitar e incentivar os funcionários. Nesse ambiente, os líderes confiam em seus trabalhadores e lhes dão muita autonomia. No entanto, nem todos os ambientes corporativos adotam esse tipo de liderança.

Liderança Servidora

Os líderes servidores colocam os outros em primeiro lugar. Eles são chamados para liderar organizações porque desejam sinceramente ajudar os funcionários ou uma empresa a atingir seus objetivos. Na liderança servidora, é mais importante para o líder desenvolver os funcionários do que se concentrar em se elevar. O moral geralmente é alto nesses ambientes, mas colocar-se em último lugar não é algo fácil para todos os líderes.

Liderança Democrática

A liderança democrática também é chamada de liderança participativa porque esses líderes envolvem a voz de todos. Equipes lideradas por líderes democráticos geralmente discutem ideias e contribuem igualmente para decisões e tarefas. Os líderes democráticos costumam fazer com que os membros de sua equipe se sintam valorizados; no entanto, um dos contras desse estilo é que, às vezes, chegar a um consenso pode ser ineficiente .

Liderança Autocrática

Este estilo é o oposto da liderança democrática. Líderes autocráticos tomam decisões em nome de suas equipes. Como autoritários, esses líderes dizem a seus funcionários o que fazer e como fazer; eles pedem pouca ou nenhuma entrada. Mais rígida do que outros estilos, a liderança autocrática tem o benefício de uma tomada de decisão mais rápida e uma cadeia de comando clara. No entanto, funcionários mais criativos podem se sentir sem inspiração nesse ambiente.

Liderança Burocrática

Esse estilo de liderança pode ser definido como “segundo as regras ”. O poder nesses tipos de cargos vem mais do cargo formal do que de características pessoais. Por exemplo, um líder burocrático geralmente assume seu cargo devido à antiguidade. As empresas que têm esse tipo de estilo de liderança geralmente também possuem processos de gerenciamento claros. A estabilidade dessa abordagem sistemática é um dos aspectos positivos da liderança burocrática; no entanto, esse estilo também deixa pouca flexibilidade ou criatividade.

Liderança carismática

Líderes carismáticos são visionários e são conhecidos por sua abordagem inspiradora para motivar uma equipe a alcançar um objetivo compartilhado. Os líderes carismáticos também costumam ser líderes transformadores. Esses líderes têm grandes personalidades e um espírito contagiante, e isso é uma vantagem para muitas organizações. Como um líder carismático geralmente se torna o rosto da empresa, a rotatividade não apenas afeta o moral interno, mas também a imagem pública.

Liderança Laissez-Faire

O estilo de liderança laissez-faire é considerado “mãos livres”. Esse tipo de líder dará a suas equipes o que elas precisam para ter sucesso, mas confiará em seus funcionários para fazer as coisas. Embora coloquem grande parte do dia-a-dia nas mãos de seus funcionários, eles ainda assumem total responsabilidade por sua equipe. Muitos funcionários prosperam nesse ambiente independente, mas pode não ser o melhor estilo de liderança para os trabalhadores que não são autônomos. Líderes laissez-faire também correm o risco de se tornarem muito passivos.

Pra ter em mente

Circunstâncias e contextos diferentes, níveis diferentes de maturidade da equipe, vão pedir posicionamentos diferentes da liderança.

Observação, escuta, clareza, flexibilidade, consciência e autoconsciência, conversação profunda e estratégica, preparação e experimentação constantes são alguns pontos fundamentais para uma liderança efetiva.

As soluções para os problemas que enfrentamos não serão individuais, serão coletivas, diversas.

O pensamento colaborativo, em rede e de aprendizado e apoio mútuos é o que fará diferença no enfrentamento a cenários cada vez mais complexos que experimentamos.